segunda-feira, 22 de abril de 2013

Com queda de preço, era do ouro se aproxima do fim


Nos cofres do Fed (banco central dos Estados Unidos) no subsolo de Manhattan, o maior acúmulo mundial de ouro, meio milhão de barras, já perdeu cerca de US$ 75 bilhões do seu valor. No Fort Knox, no Kentucky, no Depósito de Lingotes dos EUA, o prejuízo alcançou US$ 50 bilhões em abril.

O ouro, reserva de riqueza desde tempos imemoriais, ultimamente se revelou um péssimo investimento.

É uma notável reviravolta para um investimento que muitos consideravam tradicionalmente como o mais seguro de todos. O declínio foi tão rápido que alguns analistas de Wall Street estão declarando o fim de uma era. Na última vez em que o metal enveredou por esse caminho, na década de 1980, seu preço levou 30 anos para se recuperar.

O que deu errado? A resposta, em parte, tem a ver com o que deu certo. Analistas dizem que o ouro está perdendo sua atratividade depois de uma estonteante valorização de 650% entre agosto de 1999 e agosto de 2011, quando ele chegou a US$ 1.888 por onça (28,69 gramas). Desde então, ele perdeu 17% do seu valor.

Dos "hedge funds" (fundos de investimentos de alto risco) aos poupadores comuns, muitos buscaram refúgio no ouro quando a economia mundial esteve à beira de um colapso, em 2009. Agora, as coisas parecem melhores para a economia e, consequentemente, piores para o ouro. Ainda por cima, o temor de uma alta inflacionária nos EUA --uma perspectiva que levava os investidores para o ouro-- se provou infundado até agora.

Assim, Wall Street fica cada vez mais pessimista com o metal. O banco francês Société Générale recentemente divulgou um relatório intitulado "O Fim da Era do Ouro", estimando que a cotação continuará em queda pelos próximos anos.

É verdade que o ouro já passou por altos e baixos antes, e quem comprou ouro em 1999 e o guardou teve até agora um resultado muito superior ao da média dos investidores em ações. Mesmo após o recente declínio, o metal ainda acumula alta de 515%.

Mas, para uma geração de investidores, a década do ouro criou a ilusão de que ele continuaria subindo para sempre. O setor financeiro aproveitou essas esperanças para comercializar cada vez mais investimentos em ouro, fazendo com que a atual queda na cotação seja mais sentida que as anteriores.

Esse triunfo de marketing ficou claro em abril de 2011, quando uma pesquisa Gallup mostrou que 34% dos americanos consideravam o ouro como o melhor investimento em longo prazo, mais do que qualquer outra categoria, incluindo imóveis e fundos mútuos.


É difícil saber quanto dinheiro os americanos comuns investiram no ouro. Mas US$ 5 bilhões que fluíram em 2009 e 2010 para fundos mútuos focados no ouro ajudaram esses investimentos, segundo a empresa Morningstar, a atingir o valor recorde de US$ 26,3 bilhões. Desde o pico de abril de 2011, esses fundos já perderam metade do seu valor.

"O ouro é, em grande parte, um mercado psicológico", disse William O'Neill, cofundador da empresa Logic Advisors, que, em dezembro, orientou seus investidores a se desfazerem de todas as suas posições em ouro.

A abrupta reviravolta do metal foi dolorosa também para empresas que estavam lucrando com a febre do ouro.

No ano passado, dois fundos mútuos focados no ouro foram liquidados, após anos de aberturas de novos fundos, segundo dados da Morningstar. A corretora de varejo Goldline, talvez a mais famosa empresa revelada na corrida do ouro de 2011, cortou drasticamente a sua publicidade na TV paga, reduzindo os gastos de US$ 17,8 milhões em 2010 para US$ 3,7 milhões, segundo a Kantar Media.

Mas a pior notícia para o ouro é provavelmente uma boa notícia para a economia como um todo, a qual, embora ainda lutando para crescer, já se recuperou dos seus piores níveis.

Profissionais de investimentos, que haviam focado muitas das suas apostas em fundos de índices (ETFs) atrelados ao ouro, foram mais rápidos que os investidores do varejo para perceber a tendência. A sangria no ETF mais popular, o SPDR Gold Shares, foi a maior entre todos os ETFs no primeiro trimestre deste ano, quando "hedge funds" e operadores retiraram US$ 6,6 bilhões de lá, segundo dados da IndexUniverse. Dois importantes gestores de "hedge funds" que haviam assumido grandes posições em ETFs atrelados ao ouro, George Soros e Louis Bacon, desfizeram-se do investimento em 2012.

"O ouro foi destruído como refúgio e se provou inseguro", disse Soros numa recente entrevista ao "South China Morning Post", de Hong Kong. "Por causa da frustração, a maioria das pessoas está reduzindo sua posse de ouro."

Os mais otimistas dizem que esse ceticismo é precipitado. Peter Schiff, executivo-chefe da empresa de investimentos Euro Pacific Capital, disse que ainda espera que o ouro atinja US$ 5.000 por onça em poucos anos, porque, segundo ele, o mundo se encaminha para um período de perigosa hiperinflação.

"As pessoas acham que a economia dos EUA está se recuperando", disse Schiff. "Não está."

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