quarta-feira, 11 de julho de 2012

"Minha família é pé no chão. Arroz com ovo frito é ceia", diz Gilberto Barros


A máxima "nada se cria, tudo se copia", recorrente no meio artístico e também no televisivo, é um fantasma que ronda Gilberto Barros. Há uma semana ele voltou ao ar à frente do Sábado Total, na RedeTV!, pondo fim a uma ausência da telinha que durava desde 2008. Mas a estreia trouxe ar de nostalgia com o reaproveitamento de quadros de entretenimento já vistos em tantos programas similares de auditório.

Segundo o apresentador de formas rechonchudas e 53 anos, culpa da concorrência, que imitou atrações implantadas por ele. Em uma entrevista, o paulista Gilberto Barros, o Leão, diz que não faz de tudo pela audiência, apesar de ver suas assistentes de palco, de um sábado a outro, trocarem a minissaia por um minisshort que é quase um biquíni. Ele lembra do começo da carreira no rádio, às escondidas da mãe, e conta que hoje equilibra fortuna e saúde, ambos que ele gasta com moderação.

ENTREVISTA

O que você fez nesses três anos longe da televisão?
Fiquei indo e voltando dos Estados Unidos. Não fui pra lá porque é chique, o custo de vida é menor. Sempre tive casa em Orlando. E lá sou um cidadão comum. Andava com barba por fazer, camiseta do Mickey rasgada. Passeava, viajava. No fim de tarde, tomava um cafezinho, ficava em casa escrevendo ou conversando com os amigos na internet.

Como você estava sem trabalhar, não se preocupou com o dia em que o dinheiro iria acabar?
Trabalhei minha vida inteira para essa grana não acabar. Minha família é pé no chão. Qualquer arroz com ovo frito é ceia.

Antes de o Sábado Total estrear, você havia dito que outros programas te copiaram... 
Me criticaram dizendo que o programa é mesmice. Mas a gente ainda não mostrou tudo, não deu tempo. Existe a preocupação de fazer o que dá certo. Chamei o Daniel (Echaniz, expulso do Big Brother após um suposto estupro) para se explicar, mas não gostei. O público não estava interessado. Erramos. Eu não gosto de BBB, abomino esse tipo de coisa. Eu também já fui global. Não sei por que a Globo entrou nessa. Pela audiência? Não precisava, já tinha.

Em que te copiaram?
Tudo o que eu fiz na TV com ousadia, copiaram mal. Copiaram o tubo de água, caro para burro, e a máquina da verdade. É uma falta de respeito.

Você pensa em processar?
Primeiro, eu aviso. Se continuar usando, eu peço meu dinheiro. E eu sou caro.

É algo que te revolta?
Não tenho revolta, tem espaço pra todo mundo. O triste é ver apresentador que não apresenta, ator que vira apresentador. Não precisa dessa ânsia de querer sair na frente. A fama e a audiência são do povo. Da mesma maneira que ele te dá, ele te tira. Você é mais um, você não é, você está. É como morar numa casa alugada e se apaixonar por ela sem poder comprar. Eu não sou sucesso. O sucesso é uma casa alugada.

Quem você vê como um novo talento na TV?
A filha do Silvio (Santos), se for bem ensinada e tiver humildade para aprender. A Patrícia (Abravanel) é uma gracinha, um talentinho nato. A empatia dela é de apresentadora do nicho dela. Não pode querer bater asa onde não deve, querer fazer game.

E quem é um equívoco na TV?
Se eu falar, não vai ser legal...

No programa da Hebe, você disse que não vai se vender por audiência. O que isso quer dizer?
Não vou vender minha dignidade por audiência, por emprego. Eu não gosto de programas comprados de fora. Preciso olhar para câmera e ver que ali há um telespectador que sabe que meus olhos não são os olhos de uma empresa americana.

Na Band, você comandava um quadro em que mulheres seminuas ficavam em um tubo de água. Isso não é apelar?
Era um vestidinho sensual, um fetiche masculino. Se eu quisesse mulher pelada, pedia para tirar o sutiã. Se quisesse pelada, deixaria de calcinha transparente. O homem fica louco. O tubo é uma lente de aumento. Imagina o tamanho da coxa da mulher na água. É uma sacanagem bem feita.

Sacanagem, mas não apelativo?
Se eu tirasse a saia, perderia o encanto. Eu não vou para o lado erótico, vou para o sensual. Quem transforma em erótico é a mente das pessoas. O lance é fazer a saia boiar. No tubo ao lado tem um cara. Às vezes, com shortinho, que também sobe com a água. Eu mexo com a sensualidade das pessoas. E só ponho pessoas bonitas. É uma apelação válida.

Na estreia do Sábado Total, o padre Marcelo Rossi estava em meio a dançarinas de minissaia. Não é uma contradição?
Isso foi discutido. Foi normal para o sábado à tarde, é até onde o horário deixa. Não existe ordem explícita, intenção de mostrar bunda.

Pensou em tirá-las do palco?
Passou pela cabeça, mas a produção achou hipócrita. Seria hipócrita elas ficarem sem se mexer. Além do mais, o padre estava num programa de auditório.

Você começou sua carreira no rádio. Como foi o início?
Comecei em 1972, aos 12 anos, fazendo boletins esportivos. Depois, ganhei um programa que ia ao ar em Flórida Paulista (SP), onde eu morava. Para gravar em outra cidade, eu falava para minha mãe que estava indo para a aula de inglês. Imagina um garoto de 12 anos, com pais rígidos, andando de trem clandestinamente ou pedindo carona no trevo, com pais rígidos. Eu me desesperava quando não conseguia carona.

Você se formou em engenharia. Por que não largou o rádio?
Quando eu passei no vestibular, não tinha dinheiro. Eu narrava futebol e cantava em baile para pagar a faculdade. Quando terminei o curso, estava devendo. Cantava até às 6h e ia fazer prova às 7h.

Quando foi que você começou a ficar bem de vida?
Quando entrei na TV Globo, me mandaram implantar o jornalismo. Fiquei por 10 anos. Eles precisavam de alguém para montar uma rede de rádio nacional.

E quando foi que você passou a fazer entretenimento na TV?
O Honorilton Gonçalves (vice-presidente artístico da Record e bispo da Igreja Universal) me ouvia no rádio e me chamou para ir para a Record. Saí da Rádio Globo porque me indispus com um antigo diretor. Pedi para sair e paguei à vista a multa. Na TV Record, elaborei três programas em um dia. Eu dei status para Record, pois o Ratinho e a Ana Maria Braga tinham acabado de sair.

Você sempre teve problemas com peso? 
Hoje estou com 135 kg, mas perdi 15 kg por causa da diabete e devo emagrecer. Mas é difícil, sou gourmet. Meu prato predileto é o cheio e fundo. Não existe nada melhor para um gordo do que comer. Quando eu trabalhava da TV Globo, pesava 85kg. Eu era obrigado a manter o peso, senão não caberia na roupa e não entrava no ar. Quando saí, ia ao restaurante e pedia pizza. Eu não comia um pedaço, comia uma pizza.

A diabete te prejudicou muito?
Tive de sair da TV abruptamente. A diabete atacou e, sem saber, andei no limiar do coma. Um dia, fui ao programa da Hebe e estava com o lábio branco, seco. Não conseguia falar uma frase. A língua travava e secava. Hoje como tudo controlado. Não sou suicida.

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