Assuntos sobre TV, Notícias, Audiência, Ibope, GFK, media dia e demais notícias do meio artístico. Com matérias exclusivas e muito humor!
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
Mesmo sem base própria após incêndio, Brasil continua a enviar cientistas à Antártida
Palmas, gritos e assobios ecoam pelo avião de carga barulhento e frio da Força Aérea Brasileira.
Apesar das quase três horas viajando "joelho com joelho", apertados em duas longas fileiras de bancos não reclináveis, cerca de 30 cientistas estão entusiasmados na chegada à Antártida.
Passa das 15h quando eles colocam os pés na base chilena Presidente Eduardo Frei, cuja pista de pouso de apenas 1.300 metros é a porta de entrada de pessoal e suprimentos para muitas das instalações científicas do continente gelado.
Junto com pinguins e baleias, uma legião de cientistas desembarca por lá a cada verão antártico. Eles só têm o período de outubro a março para o trabalho de campo.
O Brasil fez sua primeira Operantar (Operação Antártica) em 1982. Desde então, há operações regulares.
A Folha acompanhou, no início de fevereiro, o desembarque e parte do trabalho de militares, cientistas e pessoal de apoio na operação 31, a primeira após o incêndio que destruiu a Estação Antártica Comandante Ferraz, em fevereiro de 2012, quando dois militares morreram.
MIGRAÇÃO
Mesmo sem sua "casa" no gelo, o país não parou sua atividade científica no continente. "O Brasil tem um longo e consolidado trabalho na Antártida e que, cada vez mais, não se resume à base", diz Jefferson Simões, coordenador de projetos científicos do Proantar (Programa Antártico Brasileiro) e diretor do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Hoje, o coração das operações científicas brasileiras são duas milionárias embarcações: os navios de apoio oceanográfico Ary Rongel e Almirante Maximiano.
Apelidado de "Tio Max" por sua tripulação, o Almirante Maximiano foi reformado para atender às principais demandas dos cientistas.
Com mais de R$ 11 milhões em equipamentos, ele tem um dispositivo com 10 mil metros de corda que é capaz de colher amostras de solo de regiões profundas do oceano.
O navio tem ainda cinco laboratórios, que podem ser configurados de acordo com as necessidades de cada pesquisador. Até 32 deles podem ficar lá confortavelmente.
Um pouco menor, o Ary Rongel, desde 1994 nas operações antárticas, tem três laboratórios e pode receber 27 cientistas.
Nas embarcações, os cientistas têm cinco refeições diárias, acesso à internet e aquecimento. Ainda assim, há quem abra mão do conforto e prefira ficar acampado no meio do gelo.
"É muito mais produtivo para a pesquisa. Não tem de ficar indo e voltando toda hora. Podemos nos dedicar mais intensamente", afirma o botânico Jair Putzke, da Unisc (Universidade de Santa Cruz do Sul), que está em sua 14ª temporada antártica.
As dificuldades logísticas, como levar e trazer todo o material do acampamento --inclusive os resíduos orgânicos--, não desanimam o pesquisador. "Só banho é difícil tomar. Mas nunca vi ninguém morrer por causa disso em um mês", brinca Putzke.
O projeto de estudos do qual o botânico participa investiga a vida vegetal e microbiana em áreas de degelo.
Pesquisas sobre clima e a busca por fósseis são também temas de interesse dos cientistas brasileiros por lá.
As 29 nações com estações de pesquisa na Antártida têm intercâmbio científico ou logístico, o que dá aos brasileiros margem de manobra em seus projetos. O acampamento de Putzke, por exemplo, fica próximo à base uruguaia, o que traz segurança em caso de problemas.
Enquanto a nova base brasileira não fica pronta, o país está instalando módulos emergenciais ao lado da estação destruída. Mas, nos últimos três anos, o Brasil está se aventurando mais para o interior do continente.
"Dizer que se conhece a Antártida bem estando só em Comandante Ferraz é como dizer que se conhece o Brasil todo só tendo pisado no Rio", diz Jefferson Simões, que chefia também o Criosfera 1, um módulo de pesquisa brasileiro a 2.500 km da base que foi destruída, um local com condições climáticas extremas e de difícil acesso.
"Esse é só o primeiro passo. Temos que investir mais", diz Simões, que sonha com mais módulos brasileiros espalhados na Antártida.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário