sábado, 26 de novembro de 2016

ESPECIAL - Notícia nada boa: A química dos oceanos está mudando


Como a água, que ajuda a regular a temperatura do corpo humano, os oceanos são os maiores aliados da Terra para a manutenção do seu equilíbrio climático. Eles absorvem grande parte da radiação solar que atinge o Planeta e também funcionam como sumidouros de dióxido de carbono (CO2). Mas esses heróis do clima já se revelam vítimas do aquecimento global.

Essa característica de “sumidouro” contribui para a acidificação de suas águas, que pode desencadear uma perda em cascata da biodiversidade em alguns habitats marinhos, alerta uma nova pesquisa publicada nesta semana na revista científica Nature Climate Change. Os invertebrados, assim como os peixes, são especialmente sensíveis a mudanças rápidas de pH, e mesmo uma variação mínima pode ser perigosa.

O trabalho, feito em conjunto por pesquisadores de biodiversidade da Universidade de British Columbia (UBC) e colegas na Europa, Austrália, Japão e China, compila dezenas de estudos existentes para pintar uma imagem mais ampla do impacto da acidificação nos oceanos.

Enquanto a maioria das pesquisas em campo se concentra no efeito desse fenômeno sobre determinadas espécies, o novo trabalho prevê como a acidificação afetará os habitats mais complexos e importantes do mar, como corais, prados de ervas marinhas e florestas de algas, que formam a casa de centenas de milhares de espécies oceânicas.

Os pesquisadores usaram observações de habitats já afetados ao redor do mundo para projetar como as mudanças nesses ecossistemas provocados pela acidificação do oceano afetarão o número de espécies que cada um pode suportar.

Os pesquisadores foram capazes de testar suas previsões no mundo real em dois lugares: um recife de coral perto de Papua Nova Guiné e um grupo de viveiros de ervas marinhas no Mediterrâneo.

No caso do recife de coral, a diversidade e a complexidade da vida marinha na área diminuíram à medida que a acidificação aumentou. Os pesquisadores comprovaram que as espécies que usam carbonato de cálcio para construir suas conchas e esqueletos, como mexilhões e corais, são particularmente vulneráveis à acidificação.

Já o efeito desse processo sobre os leitos de ervas marinhas, que são vitais para muitas espécies de peixes marinhos, contrariou as previsões dos cientistas, que esperavam um aumento da biodiversidade desses ecossistemas sob níveis crescentes de CO2, o que não foi observado.

Segundo os pesquisadores, isso destaca a necessidade de se concentrar não apenas em espécies individuais, mas também em como o habitat de apoio responde e interage com a mudança climática.

“Sabemos há algum tempo que haverá grandes perdedores e alguns vencedores diante das mudanças climáticas”, disse o ecologista marinho da UBC Christopher Harley, principal autor do artigo.

“Não temos tempo para medir o impacto da mudança climática em cada espécie, mas usar essa abordagem nos permite fazer previsões razoáveis. Agora temos uma visão muito mais clara de como alguns perdedores podem arrastar a biodiversidade para baixo com eles, e como algumas outras espécies podem ser capazes de ajudar seu habitat a responder à acidificação”.

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